Fui até Vila do Conde. A cidade a norte que representa um dos principais e mais procurados centros balneares do país. Mas a cidade tem mais! Em particular, um significativo património histórico. Vários monumentos e museus a partilhar o passado, a história, e a cultura de um território. Em time off, decidi visitar e conhecer um dos mais populares, e aquela que será uma das mais fortes identidades de Vila do Conde, Santa Clara! O Convento, a Igreja do Convento e os Túmulos dos Fundadores, e o Aqueduto.

A visita

Chego, ainda no centro histórico, junto à Igreja Matriz e ao Pelourinho, vejo ao fundo, a Igreja do Convento e o Aqueduto. E portanto, quatro dos Monumentos Nacionais do município estavam ali. Reunidos, num só quadro. Caminhei até ao destino. Já nos últimos metros, parei para fotografar uma extensão significativa do Aqueduto. Uma obra construída para levar água até ao chafariz do Convento. Uma ideia arrojada das Clarissas (a ordem religiosa que ocupou o convento) que acreditavam que a água da nascente de Terroso, a 7 km, tinha propriedades especiais. Constituído por 999 arcos, demorou cerca de 10 anos a ser concluído.

Mais à frente uma vista, um miradouro fantástico sobre a cidade, sobre o mar, ao fundo, e ali bem próximo, em baixo, o Rio Ave. Visitei a Igreja, vi alguns dos Túmulos dos Fundadores, e fui ao claustro. Ao centro, o chafariz, a fonte de água do Aqueduto, e também marcas claras de ter servido como meio de acesso à Igreja. O único! O Convento, não visitável no interior, será no curto-prazo convertido numa unidade hoteleira.

Lenda da Berengária

Deste convento feminino instituído em 1313 e extinto no séc. XIX, há várias lendas, quase todas relacionadas com o relaxamento e falta de voto na vida religiosa das monjas que o ocuparam. A lenda da Berengária é uma das mais conhecidas, e respeita a uma exceção. A irmã Berengária! Humilde, cumpridora, imitava os melhores exemplos das passadas Clarissas. Em determinada altura foi necessário eleger-se a abadessa, o cargo mais elevado no convento. O que dava autoridade e visibilidade social. Cobiçado por todas as monjas, não seria do interesse da Berengária (pensavam elas!). Na hora da eleição, cada uma delas, para que as amigas não ganhassem, votou em quem achavam que nunca iria ganhar – a Berengária –.

Enganaram-se. Não só ganhou, como aceitou o cargo. Uma revolta e uma rebeldia pelo resultado da votação fez com que recusassem as suas ordens. No entanto, um dia, reunida com todas elas, ordenou que as antecessoras, ali sepultadas, viessem prestar-lhe a homenagem de obediência que as freiras vivas recusavam. Eis então que se ergueram das sepulturas (o milagre!) e se mostraram em atitude respeitosa. Resultado, as monjas arrependeram-se e acataram a autoridade da nova abadessa. Este momento está representado numa tela na sala da sacristia da Igreja. Fui vê-lo. Lindo, e a melhor forma de me despedir. Acreditar na dedicação ao trabalho, na oração, e na obediência…

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