Visitar o concelho de Vouzela, é também visitar a vila. É obrigatório! Foi o que fiz, num time off, a pé, pela simpática e acolhedora vila, apelidada, e bem, como o coração da região centro. O principal cartão de visita é o património histórico e cultural, com um conjunto alargado e variado de monumentos e sítios. Fui até aos principais.

PONTE DO CAMINHO DE FERRO

A ponte férrea, de 1913, sobre o rio Zela, é um dos símbolos da vila, e dos mais visíveis. Implantada num lugar superior, e bem enquadrada na paisagem, tem uma dimensão notável e uma bonita estrutura. Com 15 arcos em alvenaria, foi parte integrante da Linha do Vouga, e funcionou com tráfego ferroviário entre 1914 e 1990. Hoje, está convertida em zona pedonal e é dos pontos mais atrativos da vila. É como que um espetacular miradouro.

TEMPLOS RELIGIOSOS

A igreja de Nossa Senhora de Assunção de Vouzela, Igreja Matriz, Monumento Nacional, guarda a memória de uma “baseliga” ou “monasterium” (basílica ou mosteiro) fundado na segunda metade do séc. XI por Cidi Davis – decerto moçárabe, que teria participado na reconquista cristã de Viseu. Hoje, apresenta uma arquitetura românico-gótico, séc. XIII, e pela sua raridade, destaca-se a torre sineira, a anteceder a fachada da igreja. Com duas ventanas providas de sinos, acredita-se que terá sido construída ali para proteger a frontaria dos ventos e das chuvas.

A igreja da Misericórdia está num dos largos principais da vila, para quem chega, e para quem sai. Do séc. XVII e reedificada no séc. XVIII, é um característico exemplar da arte barroca. A frontaria é rasgada por três vãos de molduras rectilíneas e frontões curvos interrompidos. Entre os segmentos do frontão do portal, escava-se um nicho que abriga uma imagem de calcário policromada, de Nossa Senhora da Conceição. Destaque para o bonito revestimento em painéis de azulejos azuis e brancos, tipicamente portugueses.

A capela de São Frei Gil, construída nos finais do séc. XVI, inícios do séc. XVII,  distingue-se pelo desenho caprichoso da fachada. Uma pequena-grande obra de arte. Reedificada na segunda metade do séc. XVIII, ao “estilo D. João V” apresenta no nicho central uma escultura calcária do orago que exibe alguns dos atributos do seu poder taumatúrgico.

CENTRO HISTÓRICO

Vouzela beneficiou desde tempos longínquos da sua localização central, de ponto de passagem, de cruzamento com várias estradas e acessos romanos. Portanto, a história do centro histórico, com várias habitações brasonadas, começa por aqui … Era um local apetecível, e interessante, a vários níveis. Na Idade Média, essas estradas foram utilizadas por almocreves para o comércio, e a rua de S. Frei Gil, conhecida por Rua da Ponte, era denominada “a estrada do peixe”. Era ali que se realizava a venda do peixe.

É dos sítios mais encantadores da vila. É viajar ao seu passado! Há muitos detalhes para observar e fotografar. Atravessar a ponte romana remete-nos para todo um mundo encantado e intocável. Embora frequentemente associada ao período romano, acredita-se, e em função das suas características, que a sua construção será posterior ao séc. XVI.   Entre as várias casas senhoriais da rua, destaque para a Casa dos Távoras, não pela dimensão, mas pelo brasão picado. A família dos Távoras ficou sempre ligada ao atentado contra D. José I, que manteria uma relação amorosa com D. Teresa Távora, e terá sido após um encontro que o monarca foi atingido a tiro. O incidente foi de imediato associado aos Távoras, mesmo sem provas. No entanto, o processo judicial, condenou quatro membros da família à morte, e ordenou que o brasão da família, símbolo de poder e prestigio, fosse picado.

MUSEU MUNICIPAL

É um edifício característico do tempo de D. João V (séc. XVIII), e ostenta o mais antigo brasão de Lafões. Era o antigo tribunal judicial, e insere-se numa zona que terá tido grande importância na formação da vila, a rua de S. Frei Gil. Foi lá que terminei a visita. No espaço interior. Onde, através da exposição permanente, se conhece um pouco: i) da etnografia do concelho; ii) do passado arqueológico; e iii) das crenças e devoções – arte sacra.

 

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