Olaria de Bisalhães

A UNESCO reconheceu que a Olaria de Bisalhães necessita de salvaguarda urgente, pois trata-se de uma atividade em vias de extinção. Reconheceu a Unesco e reconheci eu (risos). Que atividade! Sim, resolvi dispensar um dia em time off em Bisalhães, uma localidade próxima a Vila Real onde o Barro preto ganhou Vida e hoje ainda persiste trabalhado praticamente da mesma forma há várias dezenas de anos. Gosto de artes, gosto de artesanato, gosto de tradição, e gosto de estar próximo do processo. Fui até Bisalhães e passei várias horas com o Oleiro Jorge Ramalho e o seu tio, o único escultor de Bisalhães, o Sr. Albano, quis acompanhar tudo, quase tudo (risos). Que experiência!

A manhã estava a iniciar, estava um dia muito frio, mas também estava avisada que devia ir com bons agasalhos e que lá era estar no ‘terreno’, na parte operacional, portanto casual dress! Fui conforme, e fui com expectativas elevadas.

O processo

Quando chego estava já a proceder-se à fase final da cobertura do forno. Fase final, pois o processo de aquecimento tinha-se iniciado de madrugada, cerca de quatro horas antes. O aquecimento do forno é longo. As peças são colocadas a cru, portanto o fogo tem que ser introduzido no processo muito lentamente. O forno localizado num terreno a céu aberto estava já todo tapado de ‘terra’ preta, restos de cinza e de carvão de outras fornadas. Estava o forno e estava o espaço que o cercava, – chão e fumo -, a contrastar com um sol brilhante que brilhava ao longe.

Tapado o forno, inicia-se o processo seguinte, a cozedura, mais umas cinco horas para deixar as peças cozer. Peças de vários tipos, peças de cozinha, os famosos alguidares de forno, as assadeiras, copos, …, e outras peças decorativas. O Oleiro sabe que não vai conseguir ter todas as peças em condições para venda. Há sempre perdas! Há peças que derretem e há peças que partem. Mas esse é também o desafio desta arte, que nunca é exatamente igual. As fornadas são sempre diferentes, e cada peça é única. Enquanto decorria o processo de cozedura, fomos até à oficina, onde as peças são trabalhadas antes de ir , ao forno, a teste.

Depois, depois foi voltar ao terreno e acompanhar com entusiasmo o destapar do forno. O momento mais esperado! Foi-se destapando o forno e foi-se retirando peça a peça, – peças negras, peças pretas – que preencheram o cenário de cor, de arte e significado. Que património!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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